Em "Vírus", Antoine d'Agata mostra as emoções cruas da pandemia
O Artsy People esteve esta semana na abertura da exposição “Vírus” no Parque Lage e teve a oportunidade de conversar com o artista Antoine d’Agata.

O fotógrafo e cineasta francês com mais de 30 anos de carreira mergulhou a fundo nas emoções da pandemia, produzindo entre março de 2020 e dezembro de 2021 fotografias que são fruto da inquietação experimentada durante este período turbulento.
Assim que foi decretado o lockdown, o artista andou a esmo pelas ruas de Paris por 55 dias, fotografando frenética e compulsivamente. Um ano e meio depois, em novembro de 2021, ele veio ao Brasil para dar continuidade a este ensaio que gerou mais de 13 mil fotos, e registrou momentos de imersão na Bio-Manguinhos/Fiocruz e no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro.
Procurando retratar o que estava além do visível, a temperatura dos corpos e objetos e seus sinais de vida, ele usou um dispositivo térmico acoplado ao celular, que permite o mergulho do espectador no calor do momento, seja nas ruas vazias ou nos hospitais lotados, retratando assim a ambivalência entre solidariedade e contaminação, isolamento e união.
Aficionado por temas que normalmente são considerados tabus, d’Agata acredita na fotografia como forma de linguagem e acha que devemos explorá-la para mudar a percepção das pessoas sobre o mundo.
Além das fotografias, o filme “La vie nue” está sendo exibido na mostra “Vírus”. Produzido em maio de 2020, com imagens que pulsam e uma trilha sonora vibrante, o filme é carregado de tensão, passando a sensação de que estaríamos vivendo o fim do mundo. Perguntado sobre isso, ele respondeu que “Sim, realmente eu sentia como se estivesse vivendo o apocalipse. Naquela altura, não sabíamos o que seria daquela situação.”
A reação das pessoas ao saber que seriam fotografadas era mista. Antoine conta que algumas enxergavam o valor do registro, outras ficavam aliviadas por não terem seu rosto revelado e ainda havia aqueles que ficaram concentrados no fato de que aquela experiência não traria o que elas precisavam naquele momento.

Concebida em parceria entre a EAV e o Consulado da França no Rio de Janeiro, “Vírus” fica em cartaz até 19 de junho de 2022.
A partir de 1º de maio, o trabalho de Antoine d’Agata em torno da pandemia também poderá servisto em São Paulo, na Mostra “Psicodemia”, com instalações na Praça das Artes e Galeria Lume.